Carla Furtado Ribeiro, "Aldeia"


ALDEIA

A minha aldeia é uma história de silêncio
Solene, hierático, intenso
ora altivo, ora raro, ora denso
De que as coisas se pressentem povoadas

Um silêncio de brisas transpiradas
Pelos corpos de chão, de terra, de semente
E de tudo o que no Homem faz presente
O mistério das coisas, insondável

A aldeia é rua de memórias apeadas
Bordadas a vidrilhos de luar
um jardim de angemas perfumadas
De um perfume impossível de expressar

São memórias e visões revisitadas
Em cada pedra, em cada tronco, 
Em cada espiga de milho, 
Em cada olhar de desfolhada
Que nos fere de emoção, aldeia amada
Que nos deixa o coração a soluçar.


[poema musicado pela autora]

1 comentário:

Anónimo disse...

Carla,

Que momento de circularidade perfeita aquele em que li as tuas palavras. :) Não imaginas talvez a felicidade que foi para mim ter notícias tuas, numa altura em que me resignava já a arquivar as recordações daquela serra cheia de silêncio no meu baú de memórias...

Sim, a menina que te ouvia atentamente rompeu a pele da infância e cresceu. Mutou-se em algo não exactamente igual, não inteiramente diferente.. Conheceu sonhos, realidades, desilusões, atravessou sorrisos e lágrimas... e agora, um pouco à deriva, procura ainda os contornos exactos da sua nova pele.

Mas não, não se esqueceu dos acordes dedilhados, nem dos poemas, nem dos postais... nem tão pouco da simpatia com que sempre aí a receberam, e que agora uma vez mais se revela no comentário que deixaste.

O A Idade das Pedras começou por capricho, hoje segue morno, ao sabor da minha disponibilidade. Espero que possas visitar-me mais vezes, e eu aqui virei ler-te sempre que puder.

Aliás, lindíssimo poema, este que escolhi para comentar. Linda a forma como te revelas e assumes parte do sítio que te viu nascer. :)

De momento, talvez o saibas já, não estou em Portugal. Cruzei fronteiras temporariamente, vim à aventura saber do meu futuro e de quem posso vir a ser. Mas fica a promessa de um regresso à serra, uma visita para trocar as voltas ao "labirinto" da vida..

Bjs amigos e até breve,
A.