Carla Furtado Ribeiro, O poema dorme no silêncio

Theo, Dapore Painting
O poema dorme no silêncio e depois
Sobe devagar às fontes do esquecimento
Até que te recordes das palavras e as
Destiles em versos caudalosos
De assombro ou de ternura.

E pede-te que sangres as palavras
E delas colhas as raízes do que existe:
As amoras nas polpas dos teus dedos,

As bagas das romãs ruborizando a terra,
A dança inocente dos noivos prometidos,
As ondas vagueando na sua paz austera,
Os cavalos eriçando suas crinas voluptuosas
E a vida trespassada de rotinas imperiosas

E o poema emerge da comunhão
Do poeta com a amorfa voracidade dos dias
E é raiz e caule que sustém o mundo nas
Palavras sem as quais o mundo nem sequer existiria



Sem comentários: